domingo, 19 de março de 2017

Pérola Ellis Byington

“A vida sem as pequenas delicadezas, minha neta, é um bagaço!” [Pérola Byington]

Pérola Ellis Byington - 1879-1963

Em 1998 houve na Cruzada Pró-Infância o sentimento de que a memória da entidade e de sua principal fundadora, Pérola Byington, estavam se apagando. Por iniciativa de Maria Elisa Botelho Byington, neta de Pérola, iniciou-se um longo e minucioso trabalho de pesquisa, contando as histórias da Cruzada e de Pérola, visto ser impossível falar de uma sem citar a outra.

A família de Pérola chegou ao Brasil em 1867. O avô de Pérola, Henry Strong, deixou os Estados Unidos após a Guerra de Secessão e comprou uma fazenda nas margens do rio Toledos, afluente do rio Piracicaba, em Santa Bárbara d’Oeste, Estado de São Paulo.

Dois anos após chegou sua filha Mary Mathilda, com suas três netas, dentre elas Mary Ellis (McIntyre), mãe de Pérola Byington.

Por tradição, os imigrantes vindos dos Estados Unidos propiciavam uma boa formação educacional aos filhos. Assim, Mary Elizabeth foi enviada ao Colégio Internacional de Campinas, fundado por presbiterianos do Sul dos Estados Unidos. Lá Mary Elizabeth conheceu Robert Dickson McIntyre, com quem se casou em 1878.

Com a morte de Henry Strong, em 1870, a família vendeu a fazenda e se transferiu para Jundiaí, onde Mary abriu um colégio, em 1884.

Em 1886 a família mudou-se para Piracicaba com suas três filhas, dentre elas, Pearl, que mais tarde adotaria o nome de Pérola.

Pearl e sua irmã Mary foram matriculadas no jardim-de-infância (Kindergarten), uma novidade na época, no recém criado Colégio Piracicabano.

Em 1887, Mary McIntyre foi admitida como professora no Colégio Piracicabano, para ensinar inglês, aritmética e leitura. Entre suas colegas estava a professora belga Maria Rennotte (fundadora da Cruz Vermelha Internacional) em São Paulo, em 1912).

Em 1891 Mary McIntyre era proprietária do Ginásio Progresso Brasileiro, em Campinas, Sâo Paulo, escola mista de instrução pré-primária, primária e secundária, onde Pérola, com treze anos de idade, já trabalhava no jardim-de-infância. Devido à epidemia de febre amarela do início da década de 1890, a família transferiu-se para a cidade de Bagagem, em Minas Gerais, onde Mary McIntyre abriu nova escola. Um ano mais tarde, a família voltou para Taubaté, onde Mary substituiu a diretora do Colégio Americano. Pérola retomou seu trabalho nessa escola, como auxiliar à classe do primeiro ano.

Em 1894, os McIntyre se estabeleceram na capital paulista, onde Mary reabriu o Colégio Progresso Brasileiro e suas três filhas, Pérola, Mary e Lillian frequentavam a Escola Caetano de Campos, e lecionavam na escola. de Mary¨.O colégio tornou-se tradicional e nele estudaram figuras que posteriormente desempenharam papel de destaque na vida nacional, como Armando de Salles Oliveira, futuro governador de São Paulo e um dos fundadores da Universidade de São Paulo.

Em 1899, Pérola terminou o curso normal e foi lecionar no Grupo Escolar Triunfo. Casou-se com Albert Jackson Byington, engenheiro do ramo de eletrificação. Aos dezoito anos, Albert Byington trabalhou no Pavilhão de Eletricidade na Feira Internacional de Chicago, sendo contratado para trabalhar nesse ramo na Argentina, depois no Brasil. Em São Paulo conheceu Pérola. Casaram-se em 1901. Empreendedor, Albert adquiriu em Sorocaba remanescentes de uma companhia de força e fundou a Southern Brazil Eletric Co., que levou energia elétrica a várias cidades do interior de São Paulo. Em Campinas, Albert pôs em funcionamento o primeiro bonde elétrico da cidade. Em sua atividade empresarial fundou também a Byington & Cia. Albert e Pérola tiveram dois filhos, Alberto Junior e Elizabeth.

Em 1912, Pérola levou seus filhos para estudarem nos Estados Unidos. Estabeleceram-se em Baltimore, no estado de Maryland. Albert continuou os negócios no Brasil, e viajava constantemente aos Estados Unidos.

Durante a guerra, ainda em Baltimore, Pérola tomou parte em campanhas para angariar fundos para instituições de proteção à infância e dirigiu uma seção da Cruz Vermelha. Seu trabalho foi premiado com uma medalha. Com o final da guerra (1918), os Byington retornaram ao Brasil. Pérola se associou à Cruz Vermelha de São Paulo, da qual já faziam parte a própria mãe, Mary McIntyre, e a amiga Maria Rennotte.

Em 1928, a filha Elizabeth se casou com Russel Charles Manning, e, em 1935 transferiu-se definitivamente para os Estados Unidos. O filho de Pérola, Alberto Jackson Byington Jr., formou-se em História e Literatura em Harvard, foi atleta pelo Club Paulistano, participou nas Olimpíadas de Paris (1924) e cursou a Faculdade de Direito no Largo São Francisco.

Nos anos 1920, São Paulo estava em acelerado desenvolvimento urbano, industrial, comercial e cultural, e já apresentava mazelas comuns ao progresso desordenado, como pobreza, miséria, problemas de moradia, saneamento básico e mortalidade infantil.

As condições de moradia em São Paulo eram tidas pelos sanitaristas como as piores possíveis, com ambientes impróprios transformados em moradia, sem instalações sanitárias, sem portas ou janelas, sem abastecimento de água e nem coleta de lixo.

Para reverter este quadro, foram constituídas entidades de assistência médica e social voltadas para a infância, que passaram a divulgar propostas de combate à mortalidade infantil em discursos, aulas, palestras, seminários, publicações. Nascia uma nova sensibilidade em relação às crianças brasileiras, que passavam a ser consideradas fundamentais para o desenvolvimento e a renovação nacional.

A Cruzada Pró-Infância surgiu nesse contexto. Procurada por Waldomiro de Oliveira, diretor do Serviço Sanitário, em 1930, Pérola Byington teve a idéia de formar uma comissão de senhoras em São Paulo, para estudar a situação.

Maria Antonieta de Castro, professora e escritora, foi convidada pelo professor Pedro Voss, diretor-geral da Instrução Pública a integrar o primeiro grupo de quinze professoras que fariam o curso de educadoras sanitárias no antigo Instituto de Higiene, criado pelo médico sanitarista Geraldo Horácio de Paula Souza, para quem era necessário enraizar na população a idéia de profilaxia, mais do que a de cura.

A princípio, o programa de ação da Cruzada visava complementar a atuação das educadoras sanitárias. Durante os primeiros seis meses, a Entidade funcionou sob os auspícios da Associação de Educação Sanitária, passando a ter personalidade jurídica autônoma em 22 de janeiro de 1931. O programa previa a criação de um Dispensário Central, para atender os casos observados nos postos de saúde pelas educadoras sanitárias. Lá as crianças teriam assistência sanitária, médica e odontológica, e receberiam encaminhamento para tratamento hospitalar, assistência social (roupas, remédios e alimentos). Para as gestantes estava previsto apoio moral e material, assistência pré-natal e garantia de assistência ao parto e amparo aos filhos durante o tempo em que estivessem afastadas do lar, além de meios para que pudessem amamentar os filhos. O programa ainda se propunha a lutar por leis favoráveis às mães e à criança.

A entidade não tinha sede fixa, e as reuniões ocorriam em diferentes lugares, inclusive na casa de Pérola Byington. Pouco a pouco a Cruzada foi se estruturando e Pérola Byington centralizou as atividades em sua casa, onde começou a funcionar o Dispensário Central. Lá ocorriam as reuniões da diretoria, as reuniões semanais das voluntárias, para confecção de enxovais de bebê, eram recebidas pessoas interessadas em se filiar à nova associação e as que procurassem auxílio.

Houve intensa campanha para inscrição de novos sócios e obtenção de colaborações diversas, com publicações em jornais e realização de chás e bailes beneficentes, em que foram arrecadados 24 contos de reis em apenas quatro meses.

Embora as educadoras sanitárias e a diretora-secretária Maria Antonieta de Castro fossem presenças constantes na Cruzada, a administração e os rumos da entidade se concentraram nas mãos de sua diretora-geral, Pérola Byington. Mesmo havendo pequenas diferenças nas áreas de interesse e no estilo, Pérola Byington e Maria Antonieta sempre atuaram em sintonia.

Maria Antonieta era católica e gostava de efemérides e rituais. Ocupava-se de atividades como os Cursos de Puericultura, a Escola de Saúde e os Concursos de Robustez. Já a Casa Maternal, o Lactário (banco de leite humano), a defesa do salário-maternidade, a educação sexual, a criação de uma polícia feminina e a construção de um hospital infantil eram propostas de Pérola Byington, protestante e mais pragmática, cujas fontes de informações e inspiração foram adquiridas em parte na Cruz Vermelha americana e brasileira, em cursos e em viagens aos Estados Unidos, onde visitou diferentes entidades filantrópicas e órgãos governamentais voltados para a assistência materno-infantil, como o Children’s Bureau, em Washington.

Menos de um ano depois, a entidade passou a ter uma sede na Rua Santa Madalena 58, São Paulo. No começo, as instalações eram precárias e a Cruzada contava basicamente com trabalho voluntário. Todo o equipamento foi obtido por empréstimo: uma mesa, uma balança e duas máquinas de costura. Ali foi instalado o Dispensário, que tinha como diretora a educadora sanitária Elizabeth Ellis de Oliveira Pyles, prima de Pérola, .formada na primeira turma de educadoras junto com Maria Antonieta.

Administrativamente, Pérola contava com a colaboração de um Conselho Diretor, constituído basicamente por mulheres com experiência profissional ou em trabalho voluntário, além das esposas de médicos, jornalistas, empresários e políticos. Alguns anos depois, homens foram incluídos no Conselho Fiscal e no Conselho Consultivo, dentre eles Albert Byington e Alberto Byington Jr.

Em 1931, Pérola Byington foi ao Rio de Janeiro para participar do II Congresso Internacional Feminista, organizado por Bertha Lutz. Pérola fez quatro recomendações, entre as quais a necessidade de criação de um seguro contra doença e invalidez, de taxas especiais para obtenção de fundos para a defesa da criança e da saúde pública e a fixação de um salário mínimo.

No mesmo ano, por iniciativa da Cruzada, foram realizados pela primeira vez a Semana da Criança, o Concurso de Robustez Infantil e o Curso de Puericultura. Os eventos da Cruzada sempre contaram com ampla divulgação dos meios de comunicação.

Por ocasião da Revolução Constitucionalista de 1932, a Cruzada organizou os trabalhos ao lado da Liga das Senhoras Católicas, da Cruz Vermelha e de outras associações femininas, encarregadas de arrecadar doações para o suprimento das necessidades básicas dos militares alistados e de suas famílias. A Cruzada organizou 18 Centros de Assistência Social e Propaganda Cívica, dezessete dos quais tiveram mulheres na direção. Durante o movimento, a Cruzada não se afastou de sua proposta inicial de fornecer atendimento a mães e crianças.

Em 1933 houve a publicação do Relatório dos trabalhos realizados pela Cruzada Pró-Infância, revelando uma entidade estruturada e em pleno funcionamento e expansão. O Relatório especificava os vários serviços prestados, as atividades desenvolvidas, a relação de sócios e o balanço da entidade, que possuía um Dispensário Central e quatro Centros de Assistência; uma Cozinha Dietética, a Casa Maternal e a Escola de Saúde.

Os anos de 1933 e 1934 marcam a crescente atuação pública de Pérola Byington. No início de 1933, ela participou ativamente do lançamento da candidatura à Assembléia Nacional Constituinte de Carlota Pereira de Queiroz, médica que obteve grande prestígio durante a Revolução Constitucionalista. No ano anterior, um decreto federal estabelecera novas regras eleitorais, garantindo às mulheres o direito ao voto. A Associação Cívica Feminina, da qual Pérola foi uma das fundadoras tinha o objetivo de promover as mulheres tanto como cidadãs quanto como mães de família. Com a intensa participação feminina no movimento constitucionalista, houve o lançamento de um “Manifesto ao povo paulista”, indicando Carlota como candidata a deputada, tendo sido ela a única mulher eleita para a Constituinte de 1934.

Em 1934 houve um espetacular crescimento do patrimônio da entidade. Uma intensa campanha aumentou para 510 o número de sócios contribuintes e o patrimônio elevou-se a quase 200 contos de réis. Um prédio foi adquirido na Brigadeiro Luís Antônio[1], sendo inaugurada a nova sede da entidade. O primeiro pavilhão recebeu o nome de Olívia Guedes Penteado, recém-falecida.

Desde o início das atividades, a Cruzada teve uma grande preocupação com a alimentação infantil. O problema da desnutrição era seríssimo, “uma herança amarga para um país tão rico”, costumava dizer Pérola. Na Cozinha Dietética era feita a distribuição do leite e outros alimentos às crianças, conforme prescrição médica. Parte do leite era fornecida gratuitamente pela Companhia União e Usina Vigor, entretanto, a maior parte provinha da Fazenda Itahyê, da família Byington.

Dentre os vários serviços para combater a desnutrição infantil organizados pela Cruzada destacam-se o Lactário e o Berçário. Defensora da amamentação, Pérola reconhecia que algumas crianças não podiam receber leite da mãe – casos de doença, morte materna ou abandono. De 1940 a 1951 funcionou na Cruzada um Lactário (o primeiro banco de leite humano do Brasil). As amas ou nutrizes faziam periodicamente uma série de exames clínicos e laboratoriais. O leite era extraído mecanicamente, por um aparelho cedido pela Byington & Cia.

A prevenção das doenças foi uma das principais atividades desenvolvidas durante a administração de Pérola. Além da educação sanitária, também eram transmitidos valores morais como pátria, família, ordem, disciplina e trabalho, considerados tão importantes quanto higiene, combate às doenças e à desnutrição.

Três propostas de educação sanitária da Cruzada merecem destaque por levantarem questões até então pouco discutidas na sociedade brasileira: a educação sexual, a prevenção de acidentes de trânsito e a segurança no lar.

Para Pérola, a educação sexual deveria começar nos seis primeiros anos de vida e ser feita em casa, pelas mães. Caso não fosse possível, recomendava-se que acontecesse nas escolas, por pessoas de real valor intelectual e moral.

As exposições temáticas foram outro veículo importante para a educação sanitária, de difusão dos valores morais e propaganda da entidade. A primeira dessas exposições, em 1949, recebeu 100 mil visitantes em oito dias e destacou os serviços prestados pela Cruzada, divulgou os princípios que deveriam reger a vida das crianças nas diferentes fases e os ensinamentos práticos sobre organização da casa, saúde, educação e prevenção de acidentes. A segunda exposição, realizada no ano seguinte, tinha como tema o “Lar feliz” e a terceira, em 1952, abordou aspectos como alimentação, vestimenta e habitação.

Pérola ressaltava que a criança pobre em idade pré-escolar não tinha a atenção da família e era esquecida pelo poder público, cuja preocupação maior era o ensino primário. O resultado era que as crianças chegavam desnutridas à idade escolar, aquém do desenvolvimento próprio da idade, tornando-se repetentes crônicos. Era necessário ocupar-se delas o mais cedo possível, de forma integral, fornecendo educação baseada em métodos modernos, assistência médico-sanitária, psicológica e acompanhamento familiar. Nos anos 1930, a Cruzada implantou jardins-de-infância nos Centros de Assistência Social, juntando-se ao movimento de educadores e psicólogos pela criação de estabelecimentos de educação e cuidados para crianças pobres. Na década de 1940 os jardins-de-infância da Cruzada passaram por uma remodelação e foram considerados modelo.

Em 1945, Pérola Byington juntou-se à jornalista Helena Silveira na campanha pela criação de uma creche em cada bairro. Em 1946, a Cruzada abriu sua primeira creche, cujos princípios eram semelhantes aos dos jardins-de-infância: assistir e educar. A Cruzada fez parcerias com indústrias para instalar e administrar os serviços de educação e cuidados infantis, e fez convênio com o governo para receber em suas creches crianças entre seis meses e três anos de idade, encaminhadas pelo Serviço Social do Estado.

Em 1951 iniciaram as obras do Hospital Cruzada Pró-Infância, que foram concluídas em 1958. De 1940 até 1950, a Cruzada realizou inúmeras campanhas junto à sociedade civil e ao poder público em prol da construção do conjunto hospitalar.

Entre 1930 e 1963, a Cruzada enviou diversos ofícios ao legislativo propondo a criação a aplicação rigorosa das leis; cobrou várias medidas das autoridades e da sociedade civil. Para por seus projetos em andamento, buscou alianças com políticos, com diversas entidades filantrópicas, grupos feministas, profissionais de saúde, professores, educadores, assistentes sociais e empresários; promoveu conferências e mobilizou a opinião pública através da mídia. A entidade recebeu apoio financeiro do governo para suas obras. Pode-se dizer que a Cruzada, em alguns momentos, chegou a suprir o papel do Estado, sobretudo no que se refere à assistência prestada nos Centros de Assistência e nas creches, já que alguns serviços oferecidos pela rede pública eram precários ou até mesmo inexistentes naquela época.

A Cruzada participou de congressos, realizou pesquisas, apresentou trabalhos, discutiu projetos, produzindo uma importante literatura sobre a proteção à infância e à maternidade. Organizou fóruns de discussão sobre problemas da infância. No início dos anos 50, patrocinou uma série de debates sobre a mortalidade infantil, suas causas e possíveis normas de combatê-la.

Pérola participou, por motivação própria ou por convite, de uma série de outras atividades. Entre 1934 e 1945, fez três viagens de estudo e pesquisa aos Estados Unidos, onde visitou várias entidades assistenciais e órgãos de governo. Das viagens, trouxe farto material didático, bibliografia e novas ideais.

Nos anos 1930, Pérola freqüentou as reuniões da Sociedade de Sociologia de São Paulo e foi convidada para fazer parte da banca de avaliação dos trabalhos de conclusão de curso da Escola de Serviço Social, recém criada em São Paulo.

Em 1936 foi ao Rio de Janeiro para participar da reunião patrocinada por Olinto de Oliveira, no Conselho Nacional de Assistência e Proteção aos Menores e Divisão de Amparo à Maternidade, da qual participaram algumas das principais personalidades dedicadas às questões materno-infantis, como Carlota Pereira de Queiroz, Moncorvo Filho e Cacilda Martins, entre outros. Pérola foi membro do Conselho Consultivo do SESI (1946), Presidente da Escola para Débeis D. Paulina de Souza Queiroz, sócia fundadora da Sociedade de Medicina do Trabalho, delegada do Departamento de Assistência Social, membro do Conselho do Serviço Social de Menores. Participou da Campanha Legionários da Defesa do Menor, que tinha por objetivo a recuperação de menores infratores (1956); da Associação do Fichário Central, entidade dedicada ao registro das pessoas atendidas pela assistência social, cuja finalidade era a coordenação de serviços entre as obras sociais.

No ano de 1958, participou da Semana de Estudos do Problema dos Menores, organizada pelo Tribunal de Justiça, e do Primeiro Salão da Criança, organizado pelos Legionários na Defesa do Menor, que tinha como proposta divulgar o trabalho de cinqüenta instituições de assistência à infância. Para atrair o público, mesclava educação e lazer. Foi realizado no Parque do Ibirapuera e recebeu a visita de mais de um milhão de pessoas.

Se, com a mão direita, Pérola centralizava a administração da Cruzada, com a esquerda, sempre que achasse necessário, ela pedia ajuda, conselhos e recorria a especialistas de diferentes áreas para prestar serviços, profissional ou informalmente.

Por todas as atividades e trabalhos realizados, Pérola recebeu condecorações e homenagens. Em 1947, mereceu o título de Membro Honorário da Sociedade Brasileira de Pediatria. Foi a única não-pediatra, até aquela data, a receber tal honraria. Essa era, sem dúvida, a homenagem da qual mais se orgulhava. A Standard Oil do Brasil lhe atribuiu a Medalha de Honra ao Mérito (1949); o Presidente da República, Getúlio Vargas, concedeu-lhe a Comenda da Ordem Nacional do Mérito no grau de Comendador da Ordem do Cruzeiro do Sul (1952). Foi escolhida Mãe Símbolo em concurso organizado pelo jornal Shopping News (1956); recebeu o título de Mãe do Ano, por indicação popular, em concurso promovido pelos Diários Associados (1957); a Medalha Príncipe Alberto de Mônaco, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (1959); a medalha Hipólito da Costa, da Sociedade Interamericana de Imprensa (1962). Aos oitenta anos (1959), Pérola recebeu homenagens do Rotary Club, do Lions Club, do Woman’s Club, das Cronistas Sociais, mais o título de Cidadão Paulistana, atribuído pela Câmara Municipal de São Paulo.

Pérola Byington faleceu em novembro de 1963, nos Estados Unidos, e a imprensa noticiou, por dias seguidos, o seu falecimento. Betti Katzenstein, psicóloga que trabalhou na Cruzada durante onze anos, relatou em um artigo, escrito logo após a morte de Pérola, o perfil administrativo da antiga diretora: “Dentro da Cruzada a criança era uma só, e dona Pérola estava em todo lugar, observando, estudando, tomando decisões, vendo o que faltava.” Segundo a psicóloga, era ela quem tomava as iniciativas, mas deixava que outros também as tomassem; “mulher ativa no meio de tantas outras que também o eram, ela criou uma obra e fez com que cada um se sentisse como sendo parte dela.”

Maria Antonieta de Castro sucedeu Pérola Byington na Direção Geral da Cruzada e deu continuidade ao trabalho.

Frases (célebres) marcantes de Pérola Byington:

Indignada com a morte de mães durante o trabalho de parto e as altas taxas de mortalidade infantil comentou com a jornalista Helena Silveira:

“– O que se pode esperar de um país cujo povo morre ao nascer?”

Quando numa entrevista lhe perguntaram como conseguia realizar tudo o que fazia, respondeu:

“ – Isso não é trabalho. É vida!"

Certa vez, sua neta, apressada, ia saindo sem se despedir. Chamou-a de volta e disse:

“– A vida sem as pequenas delicadezas, minha neta, é um bagaço!”

Ultimas recomendações Fiz o que pude...





Pérola Ellis Byington (1879-1963)



Fonte:

Maria Lucia Mott, Maria Elisa Botelho Byington, Olga Sofia Fabergé Alves. O Gesto que Salva – Pérola Byington e a Cruzada Pró-Infância. São Paulo: Grifo Projetos Históricos e Editoriais, 2005.






[1] Hoje funciona no local o Hospital Pérola Byington.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Empreendedorismo é alternativa para inserção no mercado

A afirmação foi feita pelo diretor de Inclusão Produtiva do Ministério do Desenvolvimento Social, Luiz Muller, no Fórum Sebrae de Conhecimento, em Brasília.

Por Regina Xeyla, Agência Sebrae


É preciso inserir os 16,2 milhões de brasileiros que vivem em situação de extrema pobreza no mercado formal de trabalho. Uma das formas é o empreendedorismo. A afirmação foi feita pelo diretor de Inclusão Produtiva do Ministério do Desenvolvimento Social, Luiz Muller, durante o painel 'A inclusão Produtiva para a Superação da Miséria', no Fórum Sebrae de Conhecimento, em Brasília.

"O público hoje atendido no Plano Brasil sem Miseria é formado por pessoas excluídas da cidadania. O governo pretende, não erradicar à pobreza no país, mas reduzir significativamente, no período de 2011 a dezembro de 2014. O Sebrae, por meio de acordo já firmado com o MDS, terá papel importante nesse processo", frisou Luiz Muller. Na sua avaliação, é preciso fazer inicialmente uma busca ativa desse público.

Para Muller, a população que está inserida em programas de transferência de renda precisa ser empreendedora, e não apenas trabalhar para sobreviver. "Ninguém vive só da complementação de renda, como o Bolsa Família", disse. Por parte das insituições píblicas e privadas, segundo ele, é preciso ir além do que já foi feito. "Há uma necessidade de convencer esse público a pertencer ao mundo da formalidade, mostrando os benefícios como o amparo previdenciário e o aceso ao crédito", destacou.

Ele destacou a importância do Sebrae no apoio a promoção da inclusão produtiva, por meio do acesso da população ao mercado de trabalho, ao empreendedorismo formal. "Não é fácil trabalhar com esse público. O governo tem contato com o apoio do Sebrae para chegar de forma mais efetiva a esse população", afirmou Muller.

O gerente de Desenvolvimento Territorial do Sebrae, André Spínola, ressaltou que, "dos 103 mil empreendedores individuais (EI) que recebem atualmente o Bolsa Família, 15 mil já receberam atendimento do Sebrae". Os EI são um dos públicos-alvos do acordo de cooperação técnica firmada, em setembro deste ano, entre a instituição e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A parceria firmou o compromisso do Sebrae no Plano Brasil sem Miséria.

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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O novo empreendedorismo na era do conhecimento

Neste novo e admirável mundo, o empreendedorismo passa a ter como base o domínio não apenas dos meios de produção, mas das relações humanas ao seu redor.


Por Roberto Dias Duarte , www.administradores.com.br


A história da humanidade é pontuada por episódios que deixaram marcas indeléveis na trajetória da sociedade. Muitas realizações do passado hoje se fazem presentes em nosso dia a dia, transformando o que antes soava como ficção, e até mesmo charlatanismo, em produto ou serviço essencial para boa parte das pessoas.

Há cerca de 100 anos, por exemplo, o pai da indústria automobilística, Henry Ford, introduziu o famoso conceito da linha de montagem – padronizando e simplificando tarefas –, algo fundamental para popularizar não só o uso do carro, mas também oferecer um modelo de procedimento, depois adotado por outros segmentos que acabariam conseguindo baratear seus custos com base na produção em massa.

Para viabilizar tais resultados, foi essencial inicialmente a eliminação dos movimentos "inúteis" para reduzir o tempo de produção, uma vez que o trabalho passou a ser entregue ao operário ao invés de o próprio trabalhador ter de buscá-lo. Além disso, a divisão sistemática das tarefas em pequenas etapas acabaria por dispensar a qualificação dessa mão de obra, outro significativo fator de barateamento altamente conveniente naquela ocasião.

Rememorar esses fatos torna-se importante neste início da segunda década do século 21, uma vez que as rápidas mudanças em curso – por suas características próprias – requerem novos paradigmas, frente ao pragmatismo que tanto marcou o século passado.

Neste novo e admirável mundo, o empreendedorismo passa a ter como base o domínio não apenas dos meios de produção, mas – fundamentalmente –das relações humanas ao seu redor, o que inclui desejos, angústias e muitas outras demandas.

Sob esta ótica, fica fácil entender a reviravolta sofrida pelo mercado de uma forma geral, passando a desprezar movimentos inúteis de inúmeras naturezas e exigir um novo DNA do profissional envolvido na missão de realizar tantos sonhos, agora de forma pró-ativa, com capacidade de liderança e aptidão, sobretudo, de empreender novos negócios em ambientes cada vez mais seletivos e de competição.

Foi assim que entrou em extinção o colaborador estático, passivamente à espera do trabalho a ser realizado, que antes chegava no formato ideal em suas mãos. Estudar o mínimo possível, apenas para ostentar e velho e bom diploma, é outro procedimento fadado a desaparecer num cenário como este, em constante mutação.

No campo da Ciência da Riqueza, os ícones da Nova Era do Conhecimento também se mostram inevitáveis, pois na 'linha de produção contábil', o insumo principal é a informação, tão necessária para a sobrevivência de qualquer empresa que acabou guindando o contador à condição de gestor, praticamente um parceiro do negócio.

Processada por meio do conhecimento técnico e científico, a informação é responsável direta por alimentar usuários não apenas gestores e empreendedores, mas também instituições financeiras, fisco, clientes e fornecedores, valendo-se de dados preciosos e dignos de serem tratados com todo o cuidado, para não cair em mãos erradas ou simplesmente se perderem por qualquer infortúnio.

Diante disso tudo, tanto os meios de produção das informações quanto os interesses dos usuários da contabilidade tornaram-se mais complexos e o contador, mais do que alguém que trabalha com números, passa a ser um profissional de quem o mínimo a esperar é a evolução permanente, capaz de realmente apontar caminhos para o progresso da empresa na qual ele atue internamente ou como terceiro.

A partir dessa nova visão do trabalho e a importância do valor por ele agregado, todos devem ser arrojados, notabilizando-se como seres pensantes – a exemplo de Ford – e muito menos operários, pois se no século 20 conhecimento era puramente técnico e científico, calcado na certeza das coisas, atualmente o que se vê é justamente o contrário.

Na Era do Conhecimento é impossível ter-se o controle de tudo, e vivemos todos mergulhados na incerteza de probabilidades e riscos, o que leva o mercado a buscar cada vez mais pessoas qualificadas, responsáveis, dotadas de conhecimento técnico e científico, bem como habilidade de comunicação,

Com a expansão da Tecnologia da Informação, torna-se essencial a troca dos conteúdos produzidos pelos sistemas de ERP entre as empresas (B2B), na convivência delas com os governos (B2G), mercado, clientes, parceiros, redes sociais e blogs, para citar alguns exemplos.

Empreender num ambiente assim nada mais é do que unir a capacidade de conviver com as inovações e ter sucesso ao gerar valor a partir daquilo que se conhece e dos relacionamentos que se tem.

Já os profissionais que insistirem em agir de forma simplista e cartesiana, fechados em si mesmos, tendem a ficar à margem da evolução não apenas diante de seus clientes e empregadores, mas principalmente das muitas possibilidades que se abrem hoje para quem realmente deseja empreender no 'Brasil 2.0'.

Roberto Dias Duarte [roberto@ideasatwork.com.br] é membro do Conselho Consultivo da Mastermaq Softwares, diretor acadêmico da Escola de Negócios Contábeis (ENC) e autor do livro "Big Brother Fiscal, o Brasil na Era do Conhecimento".

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